As palavras são como vinho, é preciso beber para sabê-las. Mas, não é tão simples, é preciso antes aprender a bebê-las, degustá-las,descobrir os seus becos, seus meandros, seus aromas secretos de palavras, saber esperar a sua hora minúscula, oculta, seus caramelos congelados que esperam a chegada da primavera para transformar-se de novo em palavras pétreas e poder significar.

quinta-feira, 18 de junho de 2009


Nos pátios atônitos de cérebros humanos
As formigas do tempo gastam suas horas de metal
Cavando galerias de nada, vazio e espera
E a aranha do esquecimento tece a sua teia silenciosa...

Entre tampas de vidro coloridos, 
fotos antigas e pedaços de carta rasgados 
e pequenos poemas de poetas menores
Atirados fora nos lixos da cidade
Tudo é imune, tudo é pupila e brilha no olho da luz.

Mas ainda assim, onde tempo corrói por baixo
Os pilares do espaço onde me fundo
E de onde extraio meus ossos e meus sonhos
 - meramente ouço gotas-palavras ...

Onde há esse rufar de tempo estranho 
em que não me sei 
e em que me sonho.

E nessa mínima raiz de escrita
poetar sem pressa e sem substância: 
o extravio de horas já gastas
na insensatez de andar aderido ao silêncio das palavras
e ao grito dos que nunca tiveram uma voz.

Marcello Pelotas/RS (terça-feira: 23h 20 min)
18/6/2008 21:17

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Quem sou eu

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Pelotas, RS, Brazil
Quem sou eu? Pois começo a pensar: como Leolo, não o sou, porque eu sonho. Parce que moi, je rêve. Je ne le suis pas. Abdico do reinado de ser para estar um rio: um poderoso rio castanho, taciturno, indômito e intratável... O aroma das uvas sobre a mesa de outono. O seu estuário onde a estrela-do-mar, o caranguejo e o espinhaço da baleia são arremessados para a pulsação da terra. Tudo tange e vibra. Fora isso, há esse tempo de agora, ex nihilo, mastigando algum pedaço de silêncio enquanto a poesia vibra. Desse mim, não há muito o que dizer, mas certamente há muito o que inventar.

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