
...mas fica ainda, aquilo
que não se soube dizer
delírio insano, desespero, pânico?
Não se soube ...
Há sim, o que houve
de onde descanso da loucura do mundo
do viver humano:
miséria e desatino contra os muros
- um grito no absurdo -
feito de todas as minhas células
do que morre em mim
e do que em mim renasce pulsante
feito de espera e inquietação
gemendo azúlea
na comunicação distinta
das falas da turba
e vem dessa imagem
mistura de ser, haver e estar ...
Grave e silente
o som sepulto da palavra
geme nas almas da pele
abafada, a palavra só, esquisita
cheia de transitoriedades
e quis saber de si, quis dizer-se, aflita ...
Mas o que se está por dizer
não tem nome, nem forma, nem cor
e é feita de tanto, e de sons primitivos
decepados do silêncio das coisas
e do que me leva entregue
ao pulsar nas têmporas
e no lodo primitivo, pátio da casa vazio
grama esmaecida, praia solitária
e o estraçalhante batel das águas do mar
nas pedras da orla
e o sufocante abismo das águas
e a vertigem das alturas, o vento e o chão
da convulsão do caos ao calor do nada.
E a palavra fria aquecendo-se em mim...
E habita além, ainda
em outros mundos, noutra vida, noutros olhos
e na semente da árvore envelhecida
caindo no chão e secando no outono
como as mágoas: frutas podres no vazio da espera ...
O que é feito da palavra?
... nasce em cinco estações
navega nos trilhos do acaso
morre em todo o abandono
e levita em corpo transparente
de opatidez irrelevada, latescente
lúgubre ?...
Inexprimível é a palavra que urge, que urra
só, sem nome nem nada
porque nunca (te) tive amor assim
então não sei dizê-lo
nem nunca soube dizer-te
e nunca pudeste me ouvir
e aumentas a distância
toda vez que o pânico assoma
nas horas mudas
em que te procuro
percorrendo o meu sangue ...
Marcello Pelotas/RS (1999)
Nenhum comentário:
Postar um comentário