As palavras são como vinho, é preciso beber para sabê-las. Mas, não é tão simples, é preciso antes aprender a bebê-las, degustá-las,descobrir os seus becos, seus meandros, seus aromas secretos de palavras, saber esperar a sua hora minúscula, oculta, seus caramelos congelados que esperam a chegada da primavera para transformar-se de novo em palavras pétreas e poder significar.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

ANIMAL CANSADO

Quiero un amor feroz de garra y diente
Que me asalte a traición a pleno día
Y que sofoque esta soberbia mía
este orgullo de ser todo pudiente.

Quiero un amor feroz de garra y diente
Que en carne viva inicie mi sangría
A ver si acaba esta melancolía
Que me corrompe el alma lentamente.

Quiero un amor que sea una tormenta
Que todo rompe y lo renueva todo
Porque vigor profundo lo alimenta.

Que pueda reanimarse allí mi lodo,
Mi pobre lodo de animal cansado
Por viejas sendas de rodar hastiado.

Alfonsina Storni

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O MISTÉRIO DAS ORAÇÕES




Na minha família
as orações eram ditas em segredo,
suavemente, murmuradas sob cobertores por
narizes obstruídos,
um suspiro antes e um suspiro depois
finos e estéreis como um curativo.

No exterior da casa
havia apenas uma escada de madeira
para subir, encostada à parede durante todo o ano,
pronta a usar em Agosto para reparar as telhas antes das chuvas.
Nenhum anjo subiu
e nenhum anjo desceu –
somente homens sofrendo de ciática.

Oravam para obter um vislumbre Dele
na esperança de poder renegociar contratos
ou adiar prazos.

"Senhor, dai-me força", diziam eles
pois eram descendentes de Esaú
e tinham que se contentar com a bênção
deixada por Jacob,
a bênção da espada.

Em minha casa, rezar era considerado uma fraqueza
como fazer amor.
E tal como fazer amor
era seguido pela longa
noite fria do corpo.

Sara Poisson (poesia Lituana) 

Tengai - Sara Poisson

Tengai *


Hoje vi um novo hieróglifo da beleza:

o mar e o vento balançando quatro enforcados.

O gosto amargo na boca. O corpo de chita branca

num arbusto como se fosse a diversidade capitulada.


Os novos casos instrumentais do azul e o areal:

o mar de chapéus, os senhores, as pequenas clareiras desenhadas nas

toalhas, as mulheres com bordados

nas mãos, as crianças com os lábios pintados.


Na palavra, dilacera uma letra doente como se latisse

a chama, atada à vela que está a esgotar-se.

O veneno de língua: virei todo o mundo

para ver a vírgula de fogo que está a tremer.


Vi uma pessoa cuidadosa e barriguda: nela

o sinal anguloso foi começado com inocência,

significou a dor, festim e brilho

sem apagar-se.


Os curativos sujos: o pé amarelo da menina

está a tornar-se num lírio. Dois homens estão a mijar

com as costas para o caminho que junta as duas cidades

grande e pequena.


Cada nome tem uma letra

raivosa.




* Na China, esta palavra significa “amor de mãe”. Esta palavra escreve-se com os dois hieróglifo: um significa a dor, outro o amor.



(tradução e interpretação: Valerija Sinkevičiūtė e Nuno Guimarães)

SARA POISSON é o pseudónimo de Rasa Čergeliene: poetisa, escritora, ensaísta e fotógrafa. Nascida em 1964 em Plinkses na região de Mazeikiai na Lituânia, formou-se em jornalismo na Universidade de Vilnius, em 1990. Publicou três livros de poemas: Nelygybė [Desigualdade] em 1999, Kūno išganymas [Corpo de Salvação], em 2002, e Pasienis [Fronteira], em 2006, bem como um volume de contos, Šmogus [Ser Humano], em 2005 e um volume de ensaios, Čiupinėjimo malonumas [Prazer de Tocar], em 2007. Já neste ano de 2011, publicou um novo romance com o titulo Šabaš [Sabat]. Os seus poemas e contos foram traduzidos para inglês, alemão, holandês, polaco, ucraniano, bielorrusso, russo e georgiano. Como fotógrafa, organizou várias exposições individuais e participou em vários projectos de fotografia. Dois dos seus livros foram ilustrados com as suas próprias fotos. Sara também trabalhou como editora de documentários de televisão e rádio, como repórter do principal jornal diário lituano, Lietuvos Rytas, e como especialista em relações públicas. É membro da União dos Escritores da Lituânia desde 2003. Mora em Mazeikiai, uma pequena cidade perto do Mar Báltico.


 (postagem original   no blog "Poesia Ilimitada". Disponível em: http://poesiailimitada.blogspot.com/search/label/-%20Poesia%20lituana ) 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

The Long And Winding Road



The long and winding road
 That leads to your door


 Will never disappear
 I've seen that road before
 It always leads me here
 Lead me to your door

The wild and windy night
 That the rain washed away
 Has left a pool of tears
 Crying for the day
 Why leave me standing here
 Let me know the way

Many times I've been alone
 And many times I've cried
 Anyway you'll never know
 The many ways I've tried

But still they lead me back
 To the long winding road
 You left me waiting here
 A long long time ago
 Don't keep me standing here
 Lead me to your door

But still they lead me back
 To the long winding road
 You left me standing here
 A long long time ago
 Don't leave me waiting here
 Lead me to your door


The Beatles

Tradução

A Longa e Sinuosa Estrada
A longa e sinuosa estrada
que leva até sua porta,
Jamais desaparecerá,
Eu já vi esta estrada antes.
Ela sempre me traz até aqui,
Conduz-me até sua porta.

Na noite selvagem e tempestuosa
que a chuva eliminou,
Deixou uma piscina de lágrimas
Chorando pelo dia.
Por que me deixar aqui sozinho?
Mostre-me o caminho.

Muitas vezes eu fiquei sozinho
e muitas vezes eu chorei
De qualquer forma você nunca saberá
de quantas formas tentei,

Mas ainda assim elas me trazem de volta
à longa e sinuosa estrada
Você me deixou esperando aqui
há muito tempo atrás,
Não me deixe aqui esperando,
Guie-me à sua porta

Mas ainda assim elas me trazem de volta
à longa e sinuosa estrada
Você me deixou esperando aqui
há muito tempo atrás,
Não me deixe aqui esperando,
Guie-me à sua porta


Fonte: http://letras.terra.com.br/the-beatles/190/traducao.html

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

MUERTO DE AMOR - A Margarita Manso

¿Qué es aquello que reluce
por los altos corredores?
Cierra la puerta, hijo mío;
acaban de dar las once.
En mis ojos, sin querer,
relumbraban cuatro faroles.
Será que la gente aquella
estará fraguando el cobre.
*

Ajo de agónica plata
la luna menguante, pone
cabelleras amarillas
a las amarillas torres.
La noche llama temblando
al cristal de los balcones,
perseguida por los mil
perros que no la conocen,
y un olor de vino y ámbar
viene de los corredores.
*

Brisas de caña mojada
y rumor de viejas voces
resonaban por el arco
roto de la medianoche.
Bueyes y rosas dormían.
Sólo por los corredores
las cuatro luces clamaban
con el furor de San Jorge.
Tristes mujeres del valle
bajaban su sangre de hombre,
tranquila de flor cortada
y amarga de muslo joven.
Viejas mujeres del río
lloraban al pie del monte
un minuto intransitable
de cabelleras y nombres.
Fachadas de cal ponían
cuadrada y blanca la noche.
Serafines y gitanos
tocaban acordeones.
Madre, cuando yo me muera,
que se enteren los señores.
Pon telegramas azules
que vayan del Sur al Norte.
Siete gritos, siete sangres,
siete adormideras dobles
quebraron opacas lunas
en los oscuros salones.
Lleno de manos cortadas
y coronitas de flores,
el mar de los juramentos
resonaba no sé dónde.
Y el cielo daba portazos
al brusco rumor del bosque,
mientras clamaban las luces

en los altos corredores.


Federico Garcia Lorca(1898 - 1936)

Romancero Gitano

sexta-feira, 22 de julho de 2011

El oro de los tigres




Hasta la hora del ocaso amarillo
cuántas veces habré mirado
al poderoso tigre de Bengala
ir y venir por el predestinado camino
detrás de los barrotes de hierro,
sin sospechar que eran su cárcel.
Después vendrían otroJorge Luis Borgess tigres,
el tigre de fuego de Blake;
después vendrían otros oros,
el metal amoroso que era Zeus,
el anillo que cada nueve noches *
engendra nueve anillos y éstos, nueve,
y no hay un fin.
Con los años fueron dejándome
los otros hermosos colores
y ahora sólo me quedan
la vaga luz, la inextricable sombra
y el oro del principio.
Oh ponientes, oh tigres, oh fulgores
del mito y de la épica,
oh un oro más precioso, tu cabello
que ansían estas manos.

Jorge Luis Borges

East Lansing, 1972

sábado, 2 de julho de 2011








"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.

Tudo que não invento é falso.

Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.

Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.

Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.

Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.

A inércia é o meu ato principal.

Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.

O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.

A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.

Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.

Por pudor sou impuro.

Não preciso do fim para chegar.

De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra — Como um lápis numa península.

Do lugar onde estou já fui embora."


Manoel de Barros

sexta-feira, 1 de julho de 2011

AS PEDRAS

As pedras falam? pois falam
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma história que não calam.

Debaixo dos nossos pés
ou dentro da nossa mão
o que pensarão de nós?
O que de nós pensarão?

As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.

Riem nos muros ao sol,
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como aves
e nem mais tarde regressam.

Brilham quando a chuva cai.
Vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em fonte
que saiba matar a sede.

Foi de duas pedras duras
que a faísca rebentou:
uma germinou em flor
e a outra nos céus voou.

As pedras falam? pois falam.
Só as entende quem quer,
que todas as coisas têm
um coisa para dizer.

Maria Alberta Menéres

domingo, 26 de junho de 2011

Confissão





Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde , ao voltar da festa.

Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.

Do que restou, como compor um homem
e tudo o que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, múrmurios
de riso, entrega, amor e piedade?

Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro -vinha azul e doido-

que se esfacelou na asa do avião.

Carlos Drummond de Andrade

Passagem da Noite

   É noite. Sinto que é noite não porque a sombra descesse (bem me importa a face negra) mas porque dentro de mim, no fundo de mim, o grito se calou, fez-se desânimo. Sinto que nós somos noite, que palpitamos no escuro e em noite nos dissolvemos. Sinto que é noite no vento, noite nas águas, na pedra. E que adianta uma lâmpada? E que adianta uma voz? E noite no meu amigo. É noite no submarino. É noite na roça grande. É noite, não é morte, é noite de sono espesso e sem praia. Não é dor, nem paz, é noite, é perfeitamente a noite. Mas salve, olhar de alegria! E salve, dia que surge! Os corpos saltam do sono, o mundo se recompõe. Que gozo na bicicleta! Existir: seja como for. A fraterna entrega do pão. Amar: mesmo nas canções. De novo andar: as distâncias, as cores, posse das ruas. Tudo que à noite perdemos se nos confia outra vez. Obrigado, coisas fiéis! Saber que ainda há florestas, sinos, palavras; que a terra prossegue seu giro, e o tempo não murchou; não nos diluímos. Chupar o gosto do dia! Clara manhã, obrigado,

o essencial é viver!

Carlos Drummond de Andrade

em "A Rosa do Povo" (entre 1943 e 1945)

Áporo





Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape. 

Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério? 

Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:em verde, sozinha,
antieuclidiana,

uma orquídea forma-se

Carlos Drummond de Andrade

in "A Rosa do Povo" (entre 1943 e 1945)

sábado, 11 de junho de 2011

DA SOLIDÃO




Inquieta chuva, inquieta me dispersa,
esquecida a tradição e o cansado som. 

Dentro e fora de mim tudo é deserto 
como se as ervas fossem arrancadas 
ou se esgotasse a dor por que se chora.

Na grande solidão me basta, e a contemplo 
para o sonho interior que me resolve! 

Tão fácil é esperar, que já nem sinto 
o que vem a dormir ou a morrer
na mesma angústia que
o silêncio envolve. 


Maria Alberta Menéres

“... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Excerto de 'De noite'
- Miguel Sousa Tavares
em “Não te deixarei morrer David Crockett"





Eu amo a noite com seu manto escuro
De tristes goivos coroada a fronte
Amo a neblina que pairando ondeia
Sobre o fastígio de elevado monte.

Amo nas plantas, que na tumba crescem,
De errante brisa o funeral cicio:
Porque minh’alma, como a sombra, é triste,
Porque meu seio é de ilusões vazio.

Amo a desoras sob um céu de chumbo,
No cemitério de sombria serra,
O fogo-fátuo que a tremer doideja
Das sepulturas na revolta terra.

Amo ao silêncio do ervaçal partido
De ave noturna o funerário pio,
Porque minh’alma, como a noite, é triste,
Porque meu seio é de ilusões vazio.

Amo do templo, nas soberbas naves,
De tristes salmos o troar profundo;
Amo a torrente que na rocha espuma
E vai do abismo repousar no fundo.

Amo a tormenta, o perpassar dos ventos,
A voz da morte no fatal parcel,
Porque minh’alma só traduz tristeza,
Porque meu seio se abrevou de fel.

Amo o corisco que deixando a nuvem
O cedro parte da montanha, erguido,
Amo do sino, que por morto soa,
O triste dobre na amplidão perdido.

Amo na vida de miséria e lodo,
Das desventuras o maldito seio,
Porque minh’alma se manchou de escárnios,
Porque meu seio se cobriu de gelo.

Amo o furor do vendaval que ruge,
Das asas negras sacudindo o estrago;
Amo as metralhas, o bulcão de fumo,
De corvo as tribos em sangrento lago.

Amo do nauta o doloroso grito
Em frágil prancha sobre mar de horrores,
Porque meu seio se tornou de pedra,
Porque minha’alma descorou de dores.

O céu de anil, a viração fagueira,
O lago azul que os passarinhos beijam,
A pobre choça do pastor no vale,
Chorosas flores que ao sertão vicejam,

A paz, o amor, a quietação e o riso
A meus olhares não têm mais encanto,
Porque minh’alma se despiu de crenças,
E do sarcasmo se embuçou no manto.

Fagundes Varela
In ‘Vozes da América’ (1864)

Déjeuner du matin






Il a mis le café
Dans la tasse
Il a mis le lait
Dans la tasse de café
Il a mis le sucre
Dans le café au lait
Et il a reposé la tasse
Sans me parler
Il a allumé
Une cigarette
Il a fait des ronds
Avec la fumee
Il a mis les cendres
Dans le cendrier
Sans me parler
Sans me regarder
Il s'est levé
Il a mis
Son chapeau sur sa tête
Il a mis
Son manteau de pluie
Parce qu'il pleuvait
Et il est parti
Sous la pluie
Sans une parole
Sans me regarder
Et moi j'ai pris
Ma tête dans ma main

Et j'ai pleuré.

Jacques Prévert





Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível; 
com ele se entretém
e se julga intangível.

 Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu, 
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito, 
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

 Sei que as dimensões impiedosas da Vida 
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida, 
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.
  
António Gedeão

FIN DE INVIERNO




Cantan, cantan. 
¿Dónde cantan los pájaros que cantan? 

Llueve y llueve. Aún las casas 
están sin ramas verdes. Cantan, cantan 
los pájaros. ¿En dónde cantan 
los pájaros que cantan? 

No tengo pájaros en jaula. 
No hay niños que los vendan. Cantan. 
El valle está muy lejos. Nada... 

Nada. Yo no sé dónde cantan 
los pájaros (y cantan, cantan) 
los pájaros que cantan.

Juan Ramón Jiménez

EL OTOÑADO





Estoy completo de naturaleza, 
en plena tarde de áurea madurez, 
alto viento en lo verde traspasado. 
Rico fruto recóndito, contengo 
lo grande elemental en mí (la tierra, 
el fuego, el agua, el aire), el infinito. 

Chorreo luz: doro el lugar oscuro, 
trasmito olor: la sombra huele a dios, 
emano son: lo amplio es honda música, 
filtro sabor: la mole bebe mi alma, 
deleito el tacto de la soledad. 

Soy tesoro supremo, desasido, 
con densa redondez de limpio iris, 
del seno de la acción. Y lo soy todo. 
Lo todo que es el colmo de la nada, 
el todo que se basta y que es servido 
de lo que todavía es ambición.


Juan Ramón Jiménez

ADOLESCENCIA




En el balcón, un instante 
nos quedamos los dos solos. 
Desde la dulce mañana 
de aquel día, éramos novios. 
—El paisaje soñoliento 
dormía sus vagos tonos, 
bajo el cielo gris y rosa 
del crepúsculo de otoño.— 
Le dije que iba a besarla; 
bajó, serena, los ojos 
y me ofreció sus mejillas, 
como quien pierde un tesoro. 
—Caían las hojas muertas, 
en el jardín silencioso, 
y en el aire erraba aún 
un perfume de heliotropos.— 

No se atrevía a mirarme; 
le dije que éramos novios, 
...y las lágrimas rodaron 
de sus ojos melancólicos.


Juan Ramón Jiménez

Quem sou eu

Minha foto
Pelotas, RS, Brazil
Quem sou eu? Pois começo a pensar: como Leolo, não o sou, porque eu sonho. Parce que moi, je rêve. Je ne le suis pas. Abdico do reinado de ser para estar um rio: um poderoso rio castanho, taciturno, indômito e intratável... O aroma das uvas sobre a mesa de outono. O seu estuário onde a estrela-do-mar, o caranguejo e o espinhaço da baleia são arremessados para a pulsação da terra. Tudo tange e vibra. Fora isso, há esse tempo de agora, ex nihilo, mastigando algum pedaço de silêncio enquanto a poesia vibra. Desse mim, não há muito o que dizer, mas certamente há muito o que inventar.

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