As palavras são como vinho, é preciso beber para sabê-las. Mas, não é tão simples, é preciso antes aprender a bebê-las, degustá-las,descobrir os seus becos, seus meandros, seus aromas secretos de palavras, saber esperar a sua hora minúscula, oculta, seus caramelos congelados que esperam a chegada da primavera para transformar-se de novo em palavras pétreas e poder significar.

sábado, 24 de maio de 2008

Permanência


Ainda que não apareças mais
no fundo azul da vida
vou te guardar
como esse vento de abril
febril ventril da alma
espécie de abandono
que não é tristeza
e fica nas palavras
somando-se ao doce
balanço das sílabas


Como esse vento de abril
que não se abre ao coração
mas resplandece
na porta da casa
na porta de dentro da solidão

na asa do desejo

Ainda que não apareças
fico-me aqui
frente a mim mesmo
como um quarto sem janelas
aberto ao seu mundo interno
copo de bruços na madrugada
fico-me
como as distâncias
distendendo-me na luz
um silêncio
doendo na pele
que te guarda
como uma flor
ou
pele por onde respiro
o semblante da aurora
onde
fico-me a renascer


LUIZ DE MIRANDA

Poeta Gaúcho

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Quem sou eu

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Pelotas, RS, Brazil
Quem sou eu? Pois começo a pensar: como Leolo, não o sou, porque eu sonho. Parce que moi, je rêve. Je ne le suis pas. Abdico do reinado de ser para estar um rio: um poderoso rio castanho, taciturno, indômito e intratável... O aroma das uvas sobre a mesa de outono. O seu estuário onde a estrela-do-mar, o caranguejo e o espinhaço da baleia são arremessados para a pulsação da terra. Tudo tange e vibra. Fora isso, há esse tempo de agora, ex nihilo, mastigando algum pedaço de silêncio enquanto a poesia vibra. Desse mim, não há muito o que dizer, mas certamente há muito o que inventar.

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