As palavras são como vinho, é preciso beber para sabê-las. Mas, não é tão simples, é preciso antes aprender a bebê-las, degustá-las,descobrir os seus becos, seus meandros, seus aromas secretos de palavras, saber esperar a sua hora minúscula, oculta, seus caramelos congelados que esperam a chegada da primavera para transformar-se de novo em palavras pétreas e poder significar.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

arbolito


quisiera ser arbolito

ni muy grande

ny mui chico

pa darle un poquito

e sombra

a los cansaos del camino

Atahualpa Yupanqui

Foto: Marcello dez/2008. Majestoso Guapuruvu (Schizolobium parahyba) da Praça Coronel Pedro Osório - Pelotas RS

Um comentário:

  1. Ótimo 2009.
    Bjs.

    ARTE POÉTICA

    Olhar o rio feito de tempo e água
    E recordar que o tempo é outro rio,
    Saber que nos perdemos como o rio
    E nossas faces passam como a água.

    Perceber que a vigília é outro sonho
    Que sonha não sonhar, e que essa morte
    Que a nossa carne teme é a mesma morte
    De toda noite, que é sono, que é sonho.

    Vislumbrar num dia ou num ano um símbolo
    dos dias dos homens e de seus anos,
    E converter o ultraje desses anos
    Em uma música, um rumor e um símbolo.

    Ver na morte o sonho, entrever no ocaso
    Um triste ouro, sendo assim a poesia
    Que é imortal e pobre. Pois a poesia
    Volta sempre, tal como a aurora e o ocaso.

    Às vezes durante as tardes um rosto
    Nos olha do mais fundo de um espelho;
    A arte deve ser como esse espelho
    Que nos revela nosso próprio rosto.

    Contam que Ulisses, farto de prodígios,
    Chorou de amor ao divisar sua Ítaca
    Tão verde e humilde. A arte é essa Ítaca
    De verde eternidade, sem prodígios.

    Também é como o rio interminável,
    Que passa e fica e é cristal de um mesmo
    Heráclito inconstante, que é o mesmo
    E é outro, como o rio interminável.

    (De El hacedor)


    JORGE LUIS BORGES

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Quem sou eu

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Pelotas, RS, Brazil
Quem sou eu? Pois começo a pensar: como Leolo, não o sou, porque eu sonho. Parce que moi, je rêve. Je ne le suis pas. Abdico do reinado de ser para estar um rio: um poderoso rio castanho, taciturno, indômito e intratável... O aroma das uvas sobre a mesa de outono. O seu estuário onde a estrela-do-mar, o caranguejo e o espinhaço da baleia são arremessados para a pulsação da terra. Tudo tange e vibra. Fora isso, há esse tempo de agora, ex nihilo, mastigando algum pedaço de silêncio enquanto a poesia vibra. Desse mim, não há muito o que dizer, mas certamente há muito o que inventar.

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