Eu fui recolher as monções inúteis
dos teus lugares
meus fluidos, obcecados, esvairam-se.
Um dia quis teus motivos, teu querer
rastejei em ti, tua sombra, te compus
e vomitei tua ausência
de bêbado e louco em teu veneno.
De onde brotam os cactos espumosos
da tua ausência
eu vim um dia, em vento
tocando as hastes tenras
do teu deserto
teus espinhos e teus mistérios.
Empenhei-me em teus cristais ocultos
tua procura
extraí-me à horda e trouxe rios
para encher teus vácuos
escaldantes.
Eu fui humano em ti, fui húmus
e em mim amaste o êxodo
dos meus presságios
a umidade e o terror -
efígie do impossível ...
E em mim amaste a natureza
e as eras que nos uniram
até aqui.
Vigia agora meu espaço
desde veios de tempo
veio minha turva história
Vigia agora minhas leis intranqüilas
minha massa disforme
e os hilos do meu peito
suportando a gênese dos meus ancestrais
Vigia agora o espaço mudo
onde interpõem-se os elementos
do meu ciclo
por onde romperam-se os
elos de aço do teu olhar
Eu, que compus com a lágrima
da minha ira
o traço negro dessa noite
porque em ti, eu fui apenas
o assombro que não te povoou.
Marcello - Pelotas/RS (1998)
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