Tengai *
Hoje vi um novo hieróglifo da beleza:
o mar e o vento balançando quatro enforcados.
O gosto amargo na boca. O corpo de chita branca
num arbusto como se fosse a diversidade capitulada.
Os novos casos instrumentais do azul e o areal:
o mar de chapéus, os senhores, as pequenas clareiras desenhadas nas
toalhas, as mulheres com bordados
nas mãos, as crianças com os lábios pintados.
Na palavra, dilacera uma letra doente como se latisse
a chama, atada à vela que está a esgotar-se.
O veneno de língua: virei todo o mundo
para ver a vírgula de fogo que está a tremer.
Vi uma pessoa cuidadosa e barriguda: nela
o sinal anguloso foi começado com inocência,
significou a dor, festim e brilho
sem apagar-se.
Os curativos sujos: o pé amarelo da menina
está a tornar-se num lírio. Dois homens estão a mijar
com as costas para o caminho que junta as duas cidades
grande e pequena.
Cada nome tem uma letra
raivosa.
* Na China, esta palavra significa “amor de mãe”. Esta palavra escreve-se com os dois hieróglifo: um significa a dor, outro o amor.
(tradução e interpretação: Valerija Sinkevičiūtė e Nuno Guimarães)
SARA POISSON é o pseudónimo de Rasa Čergeliene: poetisa, escritora, ensaísta e fotógrafa. Nascida em 1964 em Plinkses na região de Mazeikiai na Lituânia, formou-se em jornalismo na Universidade de Vilnius, em 1990. Publicou três livros de poemas: Nelygybė [Desigualdade] em 1999, Kūno išganymas [Corpo de Salvação], em 2002, e Pasienis [Fronteira], em 2006, bem como um volume de contos, Šmogus [Ser Humano], em 2005 e um volume de ensaios, Čiupinėjimo malonumas [Prazer de Tocar], em 2007. Já neste ano de 2011, publicou um novo romance com o titulo Šabaš [Sabat]. Os seus poemas e contos foram traduzidos para inglês, alemão, holandês, polaco, ucraniano, bielorrusso, russo e georgiano. Como fotógrafa, organizou várias exposições individuais e participou em vários projectos de fotografia. Dois dos seus livros foram ilustrados com as suas próprias fotos. Sara também trabalhou como editora de documentários de televisão e rádio, como repórter do principal jornal diário lituano, Lietuvos Rytas, e como especialista em relações públicas. É membro da União dos Escritores da Lituânia desde 2003. Mora em Mazeikiai, uma pequena cidade perto do Mar Báltico.
(postagem original no blog "Poesia Ilimitada". Disponível em: http://poesiailimitada.blogspot.com/search/label/-%20Poesia%20lituana )